1 de fev. de 2010

Para pensar

"Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda."
( Paulo Freire )

Assim se forma a identidade

Nos primeiros anos da Educação Infantil, os bebês começam a se descobrir. Para você, que trabalha com eles, é um privilégio participar desse processo

Paola Gentile (pagentile@abril.com.br)

Identificar os próprios gostos e preferências, conhecer habilidades e limites, reconhecer-se como um indivíduo único, no meio de tantos outros igualmente únicos. Esse processo de autoconhecimento, que tem início quando nascemos e só termina no final da vida, é influenciado pela cultura, pelas pessoas com as quais convivemos e pelo ambiente. A escola, assim, tem papel fundamental na construção da identidade e da autonomia de cada criança. Na creche (a faixa etária até 3 anos) isso é ainda mais importante.

Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, a identidade "é um conceito do qual faz parte a idéia de distinção, de uma marca de diferença entre as pessoas, a começar pelo nome, seguido de todas as características físicas, do modo de agir e de pensar e da história pessoal". Zilma Ramos de Oliveira, professora e pesquisadora de Psicologia do Desenvolvimento da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto, diz que todo adulto que trabalha na creche exerce um papel marcante nesse processo, "pois ele torna-se um estimulador e facilitador nessa longa caminhada".

Segundo os especialistas, o primeiro passo é eliminar a comparação de desempenho. Você deve evitar os estereótipos e nunca tomar a homogeneidade como parâmetro. Afinal, não existe uma pessoa igual a outra. "De nada adianta a escola preparar projetos especiais para trabalhar a identidade se em sala de aula não é respeitado o ritmo de cada um e, pior, se quem leva menos tempo na execução de uma atividade é elogiado", exemplifica Zilma.

"O mais indicado é criar situações em que os pequenos descubram suas particularidades e proporcionar a eles momentos de interação com os colegas, sejam eles da mesma idade, mais novos ou mais velhos", ressalta Cristina Rocha, psicanalista e consultora de programas de formação docente. Na opinião dela, não é exagero afirmar que praticamente todas as descobertas e brincadeiras feitas nos três primeiros anos de vida estão relacionadas à construção da identidade e à autonomia. "Nessa fase do desenvolvimento, todos os objetos manipulados são, para a criança, uma extensão de si mesma." Nessa interação, meninos e meninas procuram entender o mundo que os rodeia. Os bebês querem saber o que é cada coisa e para isso usam todos os sentidos. "O brincar é sempre um momento de descoberta. Na escola, é o momento de propor desafios que ajudem a superar limites", diz Cristina.
Extraido da Revista Nova Escola